Cadernos de Seguro

Entrevista

Jornalista e mestre em Economia Política pela PUC - SP , autor do livro ?Viver Muito?, sucesso editorial que trata de envelhecimento populacional e economia de forma criativa e leve, sem ser superficial. Félix, que integra o núcleo de pesquisas Políticas para o Desenvolvimento Humano do Programa de Pós-graduação em Economia da PUC ? SP, falou a Cadernos de Seguro sobre as implicações econômicas e sociais do envelhecimento da população no Brasil e no mundo e das possibilidades para o setor de seguros.


Por Vera de Souza e Mariana Santiago


Cadernos: Como você analisa a questão do envelhecimento populacional no Brasil?

Jorge Félix: Não vejo o envelhecimento como alguns economistas ou políticos que o enxergam, obrigatoriamente, como uma bomba-relógio, algo que possa ser um caos. Mas isso implica, para que possamos encarar essa realidade demográfica com menos risco, mais oportunidades econômicas. O país deveria ter adotado uma série de medidas anteriores que hoje, eu, pelo menos, já vejo com certo pessimismo. As medidas de que falo são as relativas à educação, saúde preventiva e da previdência. O país não resolveu essas questões, que estão em aberto. Com o envelhecimento da população, serão acrescidas novas questões, novos desafios para que seja possível assegurar o bem-estar da população idosa. Acho que esse é o quadro do Brasil atual.


Cadernos: E o país está envelhecendo e não teve tempo para enriquecer.

JF: Essa é a frase comum: o Brasil vai envelhecer antes de ficar rico. Eu tenho certa crítica a essa afirmação, embora ela seja verdadeira. Mas quando se coloca isso, se coloca uma ilusão de que os países pobres vão ficar ricos. Isso não existe. Historicamente, os países desenvolvidos, hoje, nunca foram subdesenvolvidos. As pessoas põem essa questão da riqueza do país como aquela que seria decisiva para o bom envelhecimento. Não, nós temos que nos conformar: não ficaremos ricos e ficaremos velhos. Para mim, a frase é mais uma questão de retórica do que uma questão prática, do que deve ser feito na economia para que se possa enfrentar a questão demográfica. O que eu quero dizer é que o fato de ficar rico não iria garantir nada também, porque os países ricos também têm os problemas do desafio do envelhecimento populacional. Atualmente estamos vendo a Europa e os EUA com sua população envelhecida, e eles são ricos e têm todos os desafios que todo país vai ter. Então, ter ficado rico ou não ter ficado rico não interfere em nada.


Cadernos: Os indicadores demográficos apontam para o fato de que daqui a 20 anos teremos uma população que atingirá o auge de sua produtividade, e em 2050 seremos um país de maioria idosa. Como resolver essa equação do ponto de vista do mercado de trabalho?

JF: O que é o envelhecimento populacional? É a redução da taxa de fecundidade (o número de filhos por mulher) conjugada a uma expectativa de aumento de vida. O resultado é que teremos um crescimento do percentual de pessoas com mais de 60 anos, no caso dos países pobres, ou de 65, no caso dos países ricos. A ONU considera que uma sociedade com mais de 14% de idosos é envelhecida, o que resulta na diminuição da população economicamente ativa. Em certos países, a taxa de crescimento da população vem caindo e, portanto, há menos pessoas trabalhando para sustentar um maior número de aposentados, que é o que se chama de taxa de descendência. Esse é o desafio do Brasil: manter as pessoas trabalhando por mais tempo. Quando se analisa o mercado de trabalho hoje, percebe-se que é muito difícil manter as pessoas produtivas. Isso porque ele está completamente precarizado; ele é a maior vítima, como eu coloco no livro, de uma economia financeirizada. A financeirização é um fenômeno mundial, ou seja, o setor financeiro sobreposto ao setor produtivo causou uma precarização das relações de trabalho. Este é o maior risco para o envelhecimento da população e para a sustentabilidade de um desenvolvimento econômico.

Cadernos: E o que acontece é que as pessoas precisam se aposentar logo, certo?

JF: Sim, porque a aposentadoria vai ser

08/09/2011

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