Cadernos de Seguro

Artigo

A crise financeira: uma visão de esquerda

[B]Renato Pita[/B]

Qual a origem da crise? Parece haver consenso de que houve falta de controle ?público?. A regra do jogo vigente é: o Capital tenta obter o maior retorno possível. E o possível é determinado pelas forças de mercado e pelas regras estabelecidas, supondo uma fiscalização eficiente. A gasolina do processo é a tão falada globalização e a ?financeirização? cada vez maior das economias. Estes dois aspectos conduziram uma crise em um setor de um país a uma crise generalizada, afetando a ?economia real? e praticamente todo o mundo, ainda que em graus diferentes.

Cada vez mais a globalização vai aumentando o grau de contágio entre as economias, para o bem ou para o mal. As últimas crises mundiais foram batizadas com os nomes dos países nos quais se originaram: Rússia, México... A alta dependência do sistema produtivo do crédito e de outros instrumentos financeiros torna o sistema financeiro o coração das economias, e suas crises tendem a se transformar em crises ?sistêmicas?. A auto-regulação do mercado pressupõe que os erros das empresas serão punidos pelo próprio mercado, com a quebra e a conseqüente perda do capital investido. Mas quando a quebra gera uma crise ?sistêmica? e perdas generalizadas, esse deixa de ser um problema exclusivo dos detentores do capital da empresa e passa a ser um assunto de interesse geral, social. E a pergunta pertinente é: deve haver tal liberdade que permita que uma empresa (ou um conjunto, um setor) gere uma crise ?sistêmica??

Há, neste momento, um razoável consenso, que seria inimaginável dois anos atrás, sobre a necessidade de maior controle sobre o sistema financeiro. A quebra fraudulenta de grandes corporações americanas, há alguns anos, motivou o desenvolvimento de uma legislação mais severa com relação aos controles e às responsabilidades nas empresas ? a lei americana Sarbanes-Oxley, adaptada em vários outros países. Certamente surgirá, a partir dessa crise, algo análogo para o sistema financeiro. O dilema desse processo é exatamente a escolha da dose, pois mais controle implica menos liberdade para as ?forças de mercado?. E menor controle implica maior risco de crise sistêmica. Neste sentido, a nova regra de solvência do setor de seguros brasileiro, conhecida como ?Solvência II?, questionada por alguns por seu suposto excessivo rigor, torna-se tão atual que parece ter sido fruto de alguma ?premonição?. O sistema financeiro e de seguros brasileiro é bastante protegido, e os ?libertaristas? pensarão duas vezes, pelo menos enquanto a crise estiver viva na memória, antes de reivindicar menos controles.

A tentativa de estimar os desdobramentos da crise é ingrata, porque um artigo escrito em novembro de 2008, quando for lido em janeiro de 2009, já deverá estar superado, dada a rapidez de evolução da situação. Mas arrisco dizer que o impacto será menor do que o imaginado no auge da crise (isso significa que acho que o pico da crise já passou), devido à forte, ainda que após relutância, intervenção governamental em escala mundial. Ou seja, a crise será menos grave e menos demorada do que pareceu e do que poderia ser se os governos não jogassem fora as teorias vigentes de não-intervenção. O contágio se dá em ondas, com menor impacto fora do epicentro, mas com maior impacto nos países com maior vulnerabilidade, o que não é o caso do Brasil. A crise nos pegou num momento extremamente favorável, com crescimento alto, taxa de juros muito alta, câmbio sobrevalorizado, confortável superávit primário interno e enorme quantidade de reservas externas, ou seja, com folga nas principais variáveis de intervenção. Só não era um momento confortável quanto à inflação, mas numa conjuntura de epidemia de grave doença, o que importa uma gripe?

Naturalmente o crescimento do PIB mundial é referência para os crescimentos de cada país. Menor crescimento do PIB implica menor crescimento de todos os setores ? uns mais, outros menos ?, e o de seguros não está excluído. O impacto no setor de seguros deve ser diferenciado entre os produtos essenciais e os secundários, não só do ponto de vis

12/01/2009 05h10

Por Renato Pita

Consultor de seguros

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