Cadernos de Seguro

Artigo

O IMPACTO DA INFLAÇÃO SOBRE AS SEGURADORAS

[B]Tema é identificado como uma das principais preocupações da gestão de riscos[/B]

A inflação descreve o fenômeno de aumento de preços de bens e serviços. Na esteira da crise financeira, o risco de inflação tem aparecido na tela do radar de muitas instituições financeiras. Com grandes pacotes de estímulo fiscal e uma política monetária global de acomodação surgem preocupações com um aumento significativo da inflação. Consequentemente, há uma maior atenção do setor de seguros. As seguradoras, especificamente, identificaram isso como uma das principais preocupações da gestão de riscos, uma vez que são afetados retornos de investimento, valorizações de ativos e futuras responsabilidades das empresas de seguro. Quando a inflação sobe, as autoridades monetárias costumam elevar as taxas de juros das apólices para controlá-la. Nas últimas três décadas, os bancos centrais tornaram-se eficientes no controle da inflação. Portanto, os cenários de inflação no futuro implicam erros de política de alguma magnitude. Embora improváveis em economias maduras com bancos centrais independentes ou em países com disciplina anti-inflacionária rígida, como o Brasil, esses erros, no entanto, podem acontecer.

É preciso distinguir entre inflação geral e ?inflação de sinistros?. A primeira refere-se a todos os itens do Índice de Preços do Consumidor (IPC). A última refere-se à gravidade dos sinistros e costuma ser definida como inflação geral acompanhada de todos os outros fatores (aumento de litígios, crescentes despesas com tratamento médico, custos que surgem junto com as novas tecnologias e mudanças nas normas sociais). Esses outros fatores são, às vezes, chamados de ?inflação sobreposta? ou ?inflação social?. A reivindicação média de seguro do motor, por exemplo, é afetada não apenas pela inflação geral mas também pelos salários das pessoas que reparam veículos, pelos custos com cuidados médicos de feridos em acidentes de veículos, despesas com processos judiciais, etc. Neste artigo, a análise restringe-se ao impacto da inflação geral sobre as companhias de seguro, não aos custos adicionais.

[B]Por que as seguradoras se preocupam com a inflação?[/B]

A inflação afeta as seguradoras por meio de três canais básicos: ela causa impacto nas reivindicações de sinistros e nas despesas gerais, no valor das responsabilidades e, menos diretamente, no valor dos ativos. Dependendo do tratamento contábil, as alterações nos valores do balanço se refletem nos resultados.

Para seguradoras do ramo não-vida, a inflação pode gerar custos mais elevados das reivindicações de sinistros, de modo a minar a rentabilidade. Seu efeito maior é sobre os segmentos long-tail: quanto maior o prazo, maior o impacto. Quando a inflação sobe, no curto prazo, causa menos danos quando as taxas de prêmio podem ser ajustadas. Porém, às vezes, isso não é possível se as regulamentações do ambiente competitivo não permitirem tais ajustes. Períodos mais longos de inflação elevada têm um custo muito alto para as seguradoras do ramo não-vida.

Essas seguradoras terão menos problemas se a inflação se reverter à sua taxa média de longo prazo de 2% a 3% depois de um período limitado de inflação elevada. No entanto, elas realmente enfrentam dificuldades quando a inflação sobe e permanece elevada. Embora o crescimento contínuo da inflação durante um período prolongado nas economias desenvolvidas seja altamente improvável, esse crescimento pode acontecer durante um período curto e, nesse caso, a reservas constituídas para pagamento de sinistros futuros seriam insuficientes.

Nos seguros de bens, a inflação requer um ajuste regular das quantias seguradas para refletir o aumento dos valores. É necessário garantir proteção adequada e ajustar automaticamente a base de cálculo do prêmio. Esse ajuste pode ser automatizado indexando-se as quantias seguradas. A indexação deve refletir o desenvolvimento dos custos de reparo e reposição, e não os valores do imóvel.

No seguro de responsabilidade civil, as taxas de prêmio precisam ser ajustadas regularmente para refletir o aumento

07/12/2010 03h04

Por Kurt Karl

Economista-Chefe e Diretor de Análise Econômica & Consultoria da Swiss Re na América do Norte, Doutor pela Princeton University

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