Cadernos de Seguro

Artigo

ENCONTRO COM A SAGACIDADE

[B]Uma homenagem a Raphael de Almeida Magalhães[/B]

Quando eu estava prestes a completar cinco anos de idade, em 1986, meu maior passatempo era montar quebra-cabeças, especialmente aqueles de 500, mil peças. Exibi-los prontos e ver que naquele emaranhado de informações, as mais diversas imagens iam se formando de maneira clara era uma verdadeira satisfação, um triunfo para uma criança ainda pré-alfabetizada. Nesse mesmo período da minha vida, Raphael era indicado para ser o titular da pasta do Ministério da Previdência Social, no governo de José Sarney ? que assumia a presidência do Brasil com a morte de Tancredo Neves.

Raphael Hermeto de Almeida Magalhães, nome de batismo do reconhecido ex-ministro que, na década de 60, já ocupara o cargo de vice-governador do extinto Estado da Guanabara na gestão de Carlos Lacerda, gostava, ou melhor, tinha uma enorme capacidade para montar quebra-cabeças e ver o emaranhado das peças se encaixando e desvendando imagens límpidas. Filho do advogado, jornalista e deputado federal por Minas Gerais Dario de Almeida Magalhães e de Elza Hermeto de Almeida Magalhães, formou-se em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e voltou-se para ações diversas, sempre visando a construção de uma sociedade consistente e justa. Amigos mais próximos são unânimes em dizer que tudo em sua vida tinha um objetivo bem claro: preservar, defender, enfim, priorizar o interesse público.

A principal característica de Raphael ? que também colaborou com a iniciativa privada ao dirigir a Light e circulou com propriedade pelo mercado segurador, ao exercer a presidência da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg) entre os anos de 1971 e 1974 ? apontada por amigos e companheiros de trabalho era sua capacidade de verbalização, persuasão e exposição de argumentos de maneira cristalina. Amigo e colaborador há mais de 40 anos, o jornalista e economista José Carlos de Assis, em seu site Rumos do Brasil, conta que ?Raphael elogiava muito o meu texto, mas eu retrucava que meu texto não se comparava com sua capacidade de exposição absolutamente cristalina, que destacava o exato ponto de atenção num contexto disperso. Lia sofregamente, abastecendo-se de leitura atualizada pela internet, e era capaz de resumir em dez minutos de conversa, com notável precisão, o livro de 400 páginas que acabara de ler?.

Assessor da presidência da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), José Américo Péon de Sá guarda boas lembranças do convívio intenso com Raphael no mercado de seguros: ?Raphael era uma pessoa quase visionária e me empolgava muito trabalhar com ele em todos os projetos que inventávamos?. Péon conta que eles se conheceram por volta do ano de 1965, no mercado de seguros, quando começou a se discutir o plano da habitação. ?Fui assessor do Banco Nacional da Habitação e desenvolvemos o seguro das atividades do banco, que foi um seguro fantástico, porque era muito eficaz. Naquela época, nós conseguimos segurar todos os financiados da habitação pelo SFH contra morte e invalidez permanente e os imóveis contra destruição, qualquer que fosse. Durante esse período, portanto, Raphael era sempre muito solicitado para trabalhar nesse projeto Mais tarde, quando ele foi presidente da Fenaseg, me convidou e a mais duas pessoas para fazer alguns estudos sobre resseguro, tecnologia da informação e contabilidade e trabalhamos numa comissão que ele nomeou para desenvolver o resseguro. Minha proposta para ele, logo depois, era fazer do Rio de Janeiro o Centro Internacional de Resseguro. E esse trabalho começou naquela época. Devido às dificuldades legislativas e judiciais para resolver essa questão, o trabalho perdeu o impacto com o tempo, mesmo agora no presente, apesar do apoio muito grande que o governador Sérgio Cabral deu ao negócio. Mas veja como funcionava a cabeça dele: Raphael chegou à federação e quis reorganizar o mercado de uma maneira racional, inteligente. E era assim

03/05/2011 10h58

Por Mariana Santiago

Jornalista da revista Cadernos de Seguro

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