Cadernos de Seguro

Artigo

SEGURO E INCLUSÃO SOCIAL

[B]Pelo esforço para conhecer a população mais pobre e ampliar o mercado na base da pirâmide social[/B]

Em países com sistemas abrangentes de segurança social, em geral os desenvolvidos, com PIB per capita alto, o Estado assume o papel de principal provedor de mecanismos de proteção social, em especial para os estratos mais pobres da população. Oferece diferentes políticas públicas capazes de garantir serviços ou renda que compõem uma rede de seguridade capaz de atender às necessidades da população em momentos de fragilidade. O sistema público de saúde inglês é exemplo clássico de um serviço público prestado por uma sociedade que optou por um sistema estatal de assistência.

Em ambientes onde o Estado não provê uma rede extensiva, seja pelo modelo político que adotam, seja por falta de capacidade econômica, o setor privado encontra oportunidades para suprir algumas falhas das políticas governamentais.

Nesse contexto, a indústria seguradora é das mais bem posicionadas para cobrir de forma eficiente parte significativa do hiato deixado pelo setor público.

São, portanto, os consumidores de baixa renda os que, potencialmente, têm mais a ganhar com um acesso adequado a produtos de seguro.

O mercado segurador, no entanto, está muito pouco exposto a esses estratos mais pobres da população. Tem, por estratégia e afinidade, seus esforços concentrados nas camadas com renda discricionária mais aparente. As classes já bem conhecidas, alta e média, têm dados acumulados nas bases atuariais das empresas seguradoras. Por outro lado, os que mais têm a ganhar com seguro ainda estão no limbo. Já há alguns produtos de qualidade à disposição, mas a maioria do que é oferecido diz respeito a adaptações de apólices desenvolvidas para outras faixas de renda, com prêmio e benefícios redimensionados. Seguros com características efetivamente adequadas ao comportamento, necessidades, disponibilidade de renda e riscos inerentes ao ciclo e condições de vida dos mais pobres ainda são raros.

Afinal, por que os pobres não têm acesso adequado a produtos de seguro, se são os que mais teriam a ganhar com isso?

A assimetria de informação é uma barreira importante para o crescimento do mercado segurador. É fundamental conhecer o risco da população a ser segurada, não só para desenhar produtos adequados, mas também para precificá-los, distribuí-los e evitar a seleção adversa de clientes. Sem um esforço de longo prazo para conhecer a população mais pobre será impossível ampliar o mercado em direção à base da pirâmide social.

A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), ciente da necessidade de ampliar o mercado e da importância que produtos de seguro podem ter na qualidade de vida dos brasileiros de baixa renda, já investiu em um esforço para desenvolver uma metodologia capaz acumular conhecimento sobre esse estrato da população e para desenvolver uma linguagem de comunicação que consiga, de forma eficaz e eficiente, informá-los sobre produtos de seguro. O projeto, batizado de Estou Seguro, implantado em 2010 e 2011, teve como campo três favelas do Rio de Janeiro: Santa Marta, em Botafogo, e Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme.

O experimento consistiu da difusão de informação sobre seguros, sem explicitar produtos nem empresas seguradoras. O conteúdo foi distribuído no Santa Marta com suporte em quatro plataformas culturais distintas: curta-metragem ficcional de três minutos, spots na rádio comunitária, teatro de rua e um concurso de samba temático ? ?Prevenir para não remediar?. Para medir o resultado do trabalho de informação, foram realizadas uma pesquisa de campo em dois estágios, no Santa Marta e nas comunidades do Leme, que serviu como referência, e outra qualitativa, também aplicada antes e depois do projeto de comunicação nos três locais.

Os resultados demonstraram, de forma objetiva, que a comunicação em linguagem afinada à realidade do público-alvo dá resultado. Apesar de a pesquisa de retorno ter sido aplicada mais de três meses depois

07/06/2011 03h59

Por Manuel Thedim

Diretor executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets)

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