Cadernos de Seguro

Artigo

Financiamento de Riscos Ambientais na Exploração e Produção de Petróleo

Incertezas e desafios

Ao observar a indústria de exploração e produção de petróleo como um todo, podemos destacar três fatores primordiais que exercem influência: manutenção dos custos de petróleo e gás natural dentro de um patamar razoável; escassez de novas fontes de grande escala produtiva em profundidades rasas, despertando o interesse econômico na exploração de campos em águas profundas; e o crescimento da exploração de campos marginais, ou seja, aqueles com quantidades mínimas de petróleo e gás exploráveis, especialmente perto das infraestruturas existentes.

Como tendência para os projetos de infraestrutura técnicos, cada vez mais investidores privados assumem o papel de promotores desses eventos. Historicamente, o mercado de seguros assume o papel de financiador de parte do investimento por meio da aceitação dos riscos inerentes à atividade. Ao longo do tempo, o mercado segurador desenvolveu técnicas de subscrição e aceitação em conformidade com as necessidades da indústria de petróleo e gás, assegurando sua operação, dispondo de capacidade financeira para cobrir os riscos envolvidos e proporcionar retorno adequado aos fornecedores de capital para o restabelecimento do desequilíbrio provocado por danos e prejuízos.

Há um consenso global ao afirmar que o vazamento provocado pela perfuração no campo de Macondo, no Golfo do México, até o momento, é o maior desastre natural da história dos Estados Unidos. A gravidade do incidente da Chevron na Bacia de Campos, apesar de o vazamento ser considerado de porte médio, deixa um alerta quanto às consequências ao se desbravar uma nova fronteira.

No dia 20 de abril de 2010, no Golfo do México, uma explosão na plataforma de perfuração Deepwater Horizon, de propriedade da empresa Transocean, operando para a BP ? British Petroleum, foi protagonista do mais grave acidente do setor de exploração e produção de petróleo e gás até então. A unidade afundou após 36 horas de intenso incêndio, deixando um saldo de onze pessoas mortas e dezessete pessoas feridas. A plataforma operava a 70 km da costa, a uma profundidade de 1.500 metros. O acidente ocorreu devido à perda do controle do poço, logo após a operação de cimentação do último revestimento. Ironicamente, finalizada a operação, o poço seria abandonado temporariamente. Com tal fato, o óleo presente nos reservatórios passou a fluir livremente para o mar. A perda do controle total sobre um poço de petróleo é um evento incomum, porém de alto impacto quanto a danos e prejuízos. O acidente foi atribuído a uma falha no equipamento denominado ?BOP? (BlowOut Preventer ? um conjunto de válvulas localizado na cabeça do poço de perfuração para controle dos fluidos do reservatório).

Pouco mais de um ano após o acidente de Macondo, em 8 de novembro de 2011, no campo de Frade (Bacia de Campos ? RJ), a plataforma SEDECO 706, de propriedade da Transocean operando para Chevron, sofreu um outro acidente na atividade de perfuração exploratória. A SEDECO 706 operava a 120 km da costa e a uma profundidade de 1.200 metros. Ao reservatório estava conectado o FPSO Frade, produzindo 79 mil barris/dia (pico máximo de produção estimado em 90 mil barris/dia) a partir de 11 poços. A princípio, pensava-se que o óleo vazado era proveniente do próprio poço quando, na verdade, uma grande quantidade passou por uma fenda na rocha, devido a uma extensa fratura geológica no reservatório. Segundo informações da própria Chevron, vazaram cerca de 3 mil barris de óleo ? quase 477 mil litros, segundo dados oficiais (após ver as imagens divulgadas pela Nasa, o geógrafo John Amos, diretor do site SkyTruth, especializado em interpretação de fotos de satélites com fins ambientais, concluiu que o derrame pôde chegar a 3.738 barris por dia, mais de dez vezes o valor declarado. John Amos foi o mesmo especialista que comunicou no acidente em Macondo que as primeiras estimativas estavam abaixo da realidade).

A ?Maré Negra? formada deslocou-se para alto mar sem atingir a costa brasileira, minimizando o impacto quanto a prejuízos e perdas. Equivocadamente a Chevro

29/11/2012 12h20

Por Sidney Leone

Engenheiro Mecânico, professor do curso de Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em seguros no segmento de grandes riscos e sócio-diretor da Integrale Consultoria e Corretagem de Seguros.

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