Cadernos de Seguro

Artigo

\"1908-2008: \'Furusatô\' sob a sombra do Fujiyama\"

Os primeiros imigrantes japoneses a pisarem em terras brasileiras aportaram em Santos, em 1908, para trabalharem nas fazendas de café, no interior de São Paulo. Com o tempo, muitos deixaram as fazendas e foram, inicialmente, para as cidades próximas, depois vieram para a cidade de São Paulo. Mesmo na cidade grande, não perderam o costume de viver próximos uns dos outros, até pelo fato de (ainda) se encontrarem em um país estranho. Assim surgiu o conhecido bairro da Liberdade, a partir do qual a colônia japonesa se espalhou pelos outros bairros.

A colônia japonesa no Brasil é a maior fora do Japão. A segunda é a do Peru. Há outras colônias menores, como a da Argentina, originalmente formada por japoneses que entraram pelo Brasil.

Parece que o jeito japonês de ser tornou-se uma referência em várias áreas de atividade, principalmente após a fantástica recuperação econômica ocorrida no pós-guerra. De uma nação destroçada, tal qual phoenix, renasceu das cinzas radioativas de Hiroshima e Nagasaki para ser uma das sete grandes do cenário mundial.

No Japão, aliás, há sempre um jeito certo de fazer as coisas. Institucionalizado. A isso se chama katá. Quando é apresentada uma situação nova, usa-se o termo shikataga-nai, ou seja, não há (ainda) um jeito padronizado de fazer isso. Também é um termo usado para quem ?não tem mais jeito na vida?. Quem pratica Karatê (kará=vazia, tê=mão), sabe bem o que é katá!.

Essa consciência coletiva do certo e do politicamente incorreto (usando uma semântica ocidental) tem uma força formidável no Japão, uma força moldada, martelada, incutida, embutida na alma japonesa há séculos.

Não pergunte por que um japonês tem certas atitudes estranhas ao ocidental. É a sua formação, sua cultura. Um tapinha nas costas faz desandar um negócio, um jeito errado de sentar e já se ofendeu sem saber, uma quebra mínima de protocolo e o acordo já era. Por isso, dizem que é complicado negociar com executivos japoneses. Não se sabe bem quem é quem na hierarquia. Não há referências muito visíveis para o ocidental.

O país se situa sobre o ponto de encontro de 4 placas tectônicas, o que o torna uma região sujeita à grande instabilidade geológica, no chamado ?círculo de fogo? ? possui algo em torno de 200 vulcões, dentre os quais uns 40 ainda são ativos de alguma forma. Há regiões que sofrem temores de terra com uma freqüência e magnitude absurdas, pelo menos para quem não está acostumado.
No Japão há toda uma estrutura montada em termos de prevenção, desde a família até o governo, nada é deixado ao acaso. Por exemplo, toda casa tem um farolete preso ao batente da porta. Os móveis são presos às paredes, evitando que em um terremoto venham a cair sobre as pessoas ou venham a obstruir a saída do imóvel. Detalhe especial para a sacola de emergência.

As cidades são obrigadas a ter um plano de evacuação da população, disponível na Internet, mostrando rotas de fuga, abrigos, instruções minuciosas para a população, inclusive para estrangeiros. Como há pessoas que não têm acesso à Internet, como os idosos, por exemplo, voluntários (novamente eles) encarregam-se de distribuir periodicamente panfletos com o material usualmente encontrado nos sites do governo.

Sendo ainda uma terra onde a matéria-prima é escassa, a lei é reciclar. E é levada a sério. Qualquer japonês que se preze tem o que eu chamo ?complexo de esquilo? ? guarda tudo o que pode ser reciclado ou eventualmente um dia possa ser necessário. Os produtos recicláveis são recolhidos em locais pré-definidos. Nada é desperdiçado. Por isso, dizem que o lixo japonês algumas vezes é de uma geração tecnológica que ainda nem chegou ao exterior.

Dentro dessa visão de antecipação da fatalidade, não é estranho que o seguro mais comprado seja o de vida. Primeiro a família, conforme reza a tradição. Claro que essa mentalidade está aliada às características do país, onde a pessoa se aposenta sem ter que provar o seu direito a isso. O próprio governo é quem a procura, comunicando-a de seu direito e agradecendo por sua dedicação ao país. Igualzinho a um cer

30/09/2008 05h56

Por Osvaldo Haruo Nakiri

Técnico/subscritor. Atuou em seguradoras, corretoras de seguro e resseguradoras ao longo de sua carreira. Publicou vários artigos em revistas consagradas, tais como a Cadernos de Seguro, Revista do IRB, Revista Apólice e Revista Cobertura, entre outras.

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