Cadernos de Seguro

Artigo

Maré alienígena

[B]Osvaldo Haruo Nakiri[/B]

Houve uma época em que o homem olhava o mar como um desafio, um limitador de sua expansão, origem de lendas pavorosas. Mas também era o caminho a ser seguido por aqueles mais destemidos em busca de riquezas e fama em terras distantes.

Assim fizeram os fenícios, gregos, vikings, holandeses, portugueses, espanhóis, ingleses, de um modo geral, a maioria das nações do velho continente. Cada povo teve seu apogeu e declínio a partir do momento em que se lançaram ao mar, principalmente após descobertas tecnológicas como a bússola e o sextante, que foram fundamentais para a indústria e a expansão naval, permitindo a travessia dos mares, abandonando a velha técnica limitadora de ir bordejando os continentes, como a navegação de cabotagem.

O mar tornou-se a via expressa, o caminho de ligação entre continentes. Aliás, mesmo após o advento da aviação, ainda é através do mar que a maioria dos transportes é realizada, mormente o de mercadorias e matérias primas quando em grande quantidade.

Quando o homem começou a freqüentar os mares do mundo, inconsciente (ou não) também se tornou portador de benefícios e desgraças.

Doenças originárias de uma região eram levadas pelos navios e marinheiros a outras, onde os habitantes não tinham evidentemente desenvolvido defesas naturais. A sífilis, por exemplo, foi levada do Novo Mundo à Europa quando Colombo retornou de suas viagens e seus marinheiros a espalharam pelo Velho Mundo. A peste negra que se alastrou pela Europa por volta de 1350 teve origem em pulgas de ratos, assíduos passageiros clandestinos em navios. A gripe espanhola do início do século passado, que causou a morte de mais de 25 milhões de pessoas, foi levada de um lado a outro do planeta através (em boa parte) dos soldados que lutaram na Primeira Grande Guerra.

Estabelecidos os controles sanitários adequados, a própria necessidade de levar e trazer matérias primas e mercadorias em grande quantidade para todos os pontos do globo criou um problema ecológico, com reflexos na economia e na saúde pública em alguns casos.

Qual é o problema? Fácil. Pegue uma casca de noz e coloque na água de um córrego. Flutua maravilhosamente, porém sem controle. Falta exatamente o lastro, um peso para dar à embarcação controle e estabilidade. Sem estar lastreado o navio corre inclusive o risco de se partir em tempestades.

Antigamente, caravelas transportavam pedras como lastro. Quando chegavam aos seus destinos, descarregavam as pedras, carregavam com mercadorias e metais preciosos e faziam o caminho de volta. Aliás, alguns dizem que as pedras do calçamento das ruas de Parati (RJ) seriam provenientes desta operação. Portanto, pedras ?importadas? da Europa.

Bem, com o passar do tempo, o desenvolvimento do comércio passou a exigir navios cada vez maiores e mais velozes, até chegarmos aos mega-petroleiros de hoje; pela sua praticidade, a água passou a ser o lastro ideal já por volta do fim do século XIX. Concomitantemente teve início o problema que só veio a mostrar sua face oculta muitos anos depois. Vamos a ele.

Na medida em que navios captam enormes quantidades de água a guisa de lastro, no processo são coletados diversos seres marinhos. Basta serem pequenos o suficiente para passarem pelas bombas, o que não é difícil. Bactérias, micróbios, invertebrados, ovos, larvas, entre as formas mais usuais. Todo ser marinho passa por uma fase dessas. Sem falar de seres que vivem grudados aos cascos, obrigando os barcos a periodicamente se recolherem às docas secas para limpeza e manutenção.

Interessante é a estratificação do mar em função de diversos fatores, como salinidade, temperatura, profundidade, correntes marítimas. Os próprios continentes também contribuem para uma separação das espécies marinhas. Zonas temperadas de águas mais frias são separadas pela zona tropical de águas mais aquecidas, gerando ecossistemas distintos. Perto da costa há mais alimento. O alto-mar proporcionalmente é menos habitado. Foi um jeito da natureza de estabelecer áreas propícias para peixes e outros seres de acordo com

02/03/2009 04h08

Por Osvaldo Haruo Nakiri

Técnico/subscritor. Atuou em seguradoras, corretoras de seguro e resseguradoras ao longo de sua carreira. Publicou vários artigos em revistas consagradas, tais como a Cadernos de Seguro, Revista do IRB, Revista Apólice e Revista Cobertura, entre outras.

Cadernos de Seguro - Uma Publicação da ENS © 2004 - 2024. Todos os direitos reservados.


DATA PROTECTION OFFICER RESPONSÁVEL

Luiz Mattua - ens.lgpd@ens.edu.br
Rua Senador Dantas, 74, Centro - Rio de Janeiro / RJ
Somente assuntos relacionados a Lei Geral de Prote¸ão de Dados (LGPD)
 

Ao navegar em nosso site, vocę reconhece que leu e compreendeu nossa Política de Privacidade.