Migração interna aponta para novas oportunidades
José Eustáquio Diniz Alves
PhD em Demografia, economista e pesquisador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE-IBGE)
Por Vera de Souza
O Brasil que viveu quatro séculos de costas para o seu interior está mudando de cara, graças aos deslocamentos populacionais. Ou seja, o Sudeste já não é sonho de migrantes. Essa dinâmica e outras constatações, como a de uma população cada vez mais feminina, apontam novas perspectivas para o mercado segurador, como explica José Eustáquio Diniz nesta entrevista para a Cadernos.
Cadernos: A partir dos dados já divulgados, como se define a transição urbana
no país?
José Eustáquio Diniz: Os dados sobre migração urbana do censo ainda não saíram. O que temos são os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio ? PNAD, que é feita anualmente, enquanto o censo é realizado a cada dez anos. Além disso, a PNAD é uma pesquisa amostral, bem robusta, diferente do censo, que pega todo o mundo e dá para ver em detalhes cada região. Antes de falar do atual perfil, é bom saber que a América Latina é conhecida como a região mais urbana do mundo e, no Brasil, até os anos 1960, a maior parte da população estava no meio rural. Já a partir dos anos 1970, o país não só ficou mais urbano como a população rural começou a diminuir em termos absolutos. Ou seja, o Brasil, hoje, é um dos países mais urbanizados do mundo e esse processo vai continuar.
Cadernos: E isso é bom, já que muitos defendem que as cidades são centros de pobreza, crime, poluição, congestionamento e má qualidade de vida?
Diniz: Não é ruim, não. Por que fazer cara feia para o urbano, se é nesse meio que se tem as melhores condições habitacionais, educacionais e de saúde? Não se faz uma universidade no meio do mato. Evidente que existe mais violência, mas a pobreza rural é mais pobre que a pobreza urbana.
Cadernos: Ou seja, a cidade passou a ser vista não mais como uma fonte de problemas, mas de oportunidades?
Diniz: Eu vi uma reportagem em que um jornalista entrevistava um morador do interior do Amazonas. A pessoa queria ir para a cidade, e o jornalista perguntou por que, já que lá ele tinha água, a mata, peixes e caça. O ribeirinho então respondeu: ?Na cidade a gente pode sonhar.?
Cadernos: Então o senhor concorda com o economista Edward Glaeser, que afirma que ?as cidades trazem oportunidades de riqueza e inspiração criativa, que só podem resultar do contato com outras pessoas?? Mas e a questão ambiental em tudo isso?
Diniz: O fato é o seguinte: em 2008, no mundo todo, foi a primeira vez que a população urbana passou a rural. E vai crescer muito mais, puxada pela Índia e China. Para se ter uma ideia, a perspectiva é de que, nos próximos anos, a China venha a criar 200 cidades com mais de três milhões de habitantes .
Sobre a questão ambiental, vamos ver o seguinte: as grandes cidades, geralmente, estão localizadas perto de um grande rio. E o Rio de Janeiro, que tem o rio no nome, não tem um grande rio. Um equívoco dos portugueses. Mas Nova York tem o rio Hudson; Paris tem o Sena; Londres, o Tâmisa; São Paulo, o Tietê e o Pinheiros, e assim por diante. Essas cidades já tiveram uma produção agrícola grande e foi tudo urbanizado. Aí tem os que falam que a urbanização prejudica a agricultura, mas a realidade é que seria muito pior se você espalhasse a população, pois ela ocuparia um espaço muito maior. Na medida em que se verticaliza, coloca-se mais gente em pouco espaço. E quanto mais concentração, menor é o impacto ecológico. Exemplos clássicos são os de Nova York e Washington. Na primeira cidade, tudo é muito concentrado, principalmente em Manhattan. Ou seja, as pessoas andam a pé ou de metrô, e isso contribui menos para a liberação atmosférica de carbono. Já em Washington é diferente, tudo é espalhado, e com isso as pessoas andam mais de carro, fazendo grandes deslocamentos. O impacto per capita das pessoas sobre o meio ambiente é muito maior.
Cadernos: Voltando ao fluxo migratório no Brasil, é fato que as cidades de médio porte são as que estão crescendo?
Diniz: É interessante observa
25/11/2011 03h26
Por Vera de Souza
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