Cadernos de Seguro

Artigo

JUROS E MERCADO DE SEGUROS 1

Redução das taxas é vista com cautela pelas seguradoras


De 2003 para cá, devido ao bom desempenho da inflação brasileira e aos efeitos da crise financeira internacional, as taxas de juros arriaram no Brasil. De quase 30% ao ano, no início de 2003, a taxa Over-Selic (nas operações por um dia com títulos públicos federais), que baliza as demais taxas da economia, recuou para cerca de 10% no fim de 2011 e mais ainda em 2012.

Bom para a produção, bom para o consumo, mas não tão bom para a rentabilidade das seguradoras. Tais empresas recebem recursos (prêmios) dando em troca a promessa de indenizar no futuro, caso o risco subscrito aconteça. Os prêmios, transformados em reservas, são imediatamente aplicados no mercado financeiro, gerando renda, enquanto, tipicamente, as indenizações se espalham ao longo da vigência das apólices.

Essa peculiar defasagem temporal relacionada a entradas e saídas de caixa indica que a rentabilidade das seguradoras pode ser dividida em dois componentes: o resultado técnico, ou seja, o lucro obtido exclusivamente na operação de venda de seguros, e o resultado financeiro, isto é, a renda líquida derivada das aplicações no mercado financeiro dos ativos garantidores das reservas técnicas, descontada das despesas financeiras. No Brasil, entre 2003 e 2010, mais de 90% desses ativos foram aplicados em títulos de renda e quotas de fundos de investimento nacionais.
Assim, quando as taxas de juros caem, existem quatro possibilidades de ajuste das seguradoras, de modo a evitar o respectivo impacto negativo sobre os seus resultados globais: elas podem: a) aumentar os prêmios puros, isto é, o custo do seguro, baseado no valor médio descontado do que esperam pagar em indenizações para um segurado de determinado grupo; b) aceitar mais risco e/ou mais prazo nas aplicações financeiras que garantem as provisões, de modo a tentar obter maiores retornos financeiros; c) regular mais estritamente os sinistros e, assim, reduzir despesas correlatas; e d) diminuir outras despesas, notadamente, as despesas comerciais e as administrativas. Obviamente, as opções (c) e (d) são as preferidas quando a queda dos juros é encarada como um fenômeno de curto prazo; a opção (b), quando se entende que perdure em médio prazo; e a opção (a), a mais difícil de adotar devido ao ambiente competitivo do mercado de seguros, quando a queda do juro é sentida como permanente e quando já se atingiu um limite nas demais opções. De todo modo, qualquer que seja a resposta do mercado, espera-se uma relação direta entre movimentos nas taxas de juros e movimentos na sinistralidade ex ante (planejada) e no índice combinado das seguradoras.

Há outro fator a considerar. As seguradoras podem ser divididas em dois grupos: as especializadas em seguros gerais (?não vida?) e as especializadas em seguros de pessoas (?vida?). No que se refere ao impacto da redução dos juros, deve-se separar o efeito contábil (via ganhos/ perdas de capital) e o efeito de caixa (via juros efetivamente recebidos) nesses dois grupos.
Quando calculam seus prêmios puros, as seguradoras descontam os fluxos de pagamentos esperados no futuro, usando como taxa de desconto, em geral, a taxa de juro de longo prazo em títulos públicos. Os prêmios formam a base das reservas das seguradoras. Assim, a redução das taxas de juros significa ganhos de capital nas reservas e nos seus ativos garantidores. Porém, inversamente ao que ocorre com os bancos, o efeito líquido nas seguradoras é negativo (maior nos passivos que nos ativos), pois tipicamente os compromissos que assumem com os segurados têm prazo mais longo que os créditos que os garantem . Mais: tal efeito é menor para as seguradoras do ramo não vida que para as do ramo vida, pois os compromissos daquelas são de prazo mais curto. Assim, contabilmente, os balanços das seguradoras do grupo não vida devem ser menos afetados pela queda das taxas de juros que as do grupo vida e, portanto, aquelas empresas tendem a efetuar ajustes menores em prêmios e despesas.

No que se refere ao resultado de caixa, as seguradoras do grup

21/09/2012 02h18

Por Lauro Vieira de Faria

Economista e consultor da Escola Nacional de Seguros ? Funenseg

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